Cooperativas Escolares transformam realidades no Centro Serra
No mês em que se comemora o Dia Internacional do Cooperativismo, conheça um pouco do projeto que incentiva o desenvolvimento da educação e o empreendedorismo com o aluno no centro da aprendizagem
Alunos da rede pública de nove municípios da região de abrangência da Sicredi Centro Serra RS têm, há sete anos, a oportunidade de aprender e desenvolver, na prática, os sete princípios do cooperativismo: adesão livre; gestão democrática; participação econômica; autonomia e independência; educação, formação e informação; intercooperação; e interesse pela comunidade. Em resumo, é através do programa de cooperativas escolares proposto pelo Sicredi que esses jovens se tornam protagonistas, e, em um esforço coletivo, se unem para transformar a realidade escolar, da comunidade e – porque não – o mundo.
Essa mudança, porém, começa pelos próprios estudantes, que se descobrem indivíduos com autonomia para tomar decisões, falar em público, dialogar em grupo e desenvolver novas habilidades todos os dias. Ana Júlia Kautzmann, de 14 anos, estudante da Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Jacob Dickel e candidata a presidente da Cooper Dickel, a primeira cooperativa escolar do Centro Serra, viu seu relacionamento interpessoal se transformar depois que passou a integrar a cooperativa escolar, há cerca de três anos. Ela conta que melhorou a oratória e passou a se sentir mais à vontade para falar em público. E isso, segundo a jovem, aconteceu de maneira natural, na medida em que agarrou as oportunidades que surgiram na trajetória dela.
É claro que Ana Júlia e os demais associados da Cooper Dickel também precisaram lidar com desafios, como os impostos pela pandemia do coronavírus, desde março do ano passado. “Não podíamos parar e por isso pensamos em formas de nos reinventar”, contou. Foi aí que surgiu a ideia de preparar xaropes de chás e distribuir, junto com cartões, nos postos de saúde de Arroio do Tigre. Essa ação foi realizada no Dia do Cooperativismo, em 3 de julho do ano passado. De lá para cá, a luta foi para manter a cooperativa com um quadro de sócios estruturado, o que se concretizou com o retorno das aulas presenciais neste ano e, consequentemente, a possibilidade de conversar com os alunos mais jovens e convidá-los a se associar.
Tudo isso foi acompanhado de perto pela professora orientadora Vera Regina Schneider. Apesar de ser suspeita para falar, ela garante que a educação seria mais transformadora se todos os alunos passassem pela cooperativa escolar. No caso da Cooper Dickel, que tem mudas de hortaliças como objeto de estudo, o programa ensinou os estudantes e a comunidade sobre todo o processo de plantio e comercialização, mas também sobre cooperação, gestão econômica, sustentabilidade e tantos outros valores que estão virando itens raros entre as novas gerações.
DIVERSIFICAÇÃO
A região de abrangência do Sicredi Centro Serra tem como uma das principais características a cultura do tabaco. Nas comunidades em que as cooperativas escolares estão inseridas, porém, há uma mudança de comportamento entre os produtores rurais. Cada vez mais, eles têm investido na diversificação da propriedade. Em Arroio do Tigre, a comercialização de mudas de hortaliças pela Cooper Dickel incentivou a organização de hortas nas propriedades dos alunos e na vizinhança. Alguns, compram as mudas e vendem os alimentos posteriormente. “A cooperativa é motivo de orgulho para o município”, avaliou Vera. As hortas abriram portas para outras culturas, como feijão e frutas, ampliando a renda dos produtores.
Já na Unirech, cooperativa formada por alunos da Emef Jacob Rech, de Arroio do Tigre, o objeto de aprendizagem são flores – que além de servirem para o embelezamento, também podem ser utilizadas para a diversificação. Para a jovem Paloma Otto Veiga, de 14 anos, as atividades nos canteiros são sinônimo de diversão e aprendizado. Associada há três anos, ela ingressou na Unirech por influência de colegas, mas descobriu um espaço democrático, que proporciona bem-estar, desenvolvimento pessoal e cuidado com o outro. Não por acaso, o nome da cooperativa é a junção da palavra união com o sobrenome da escola.
Por lá, tudo é construção coletiva. E muito desse contexto pelo esforço da orientadora da Unirech, a diretora Márcia Bugs. A Unirech foi fundada em 2015, com foco na cooperação, fortalecimento de vínculos entre a comunidade escolar, empatia e solidariedade. Todo esse aprendizado, segundo Márcia, acontece na prática, para além da sala de aula, e prepara os estudantes para a vida. “Ao lidar com a estrutura administrativa e organizacional da cooperativa, os alunos têm acesso a documentos e uma responsabilidade importante”, pontuou.
Nesse sentido, ela diz que o perfil do aluno mudou a partir da consolidação da cooperativa escolar. As principais características dos estudantes associados é ter um olhar amplo, capacidade de pensar em conjunto e ser mais respeitoso com os outros. “A Unirech tornou o aprendizado mais significativo, de forma que eles aprendem aqui, mas levam com eles para onde vão”, destacou.
A maioria dos relatos entre as professoras orientadoras das cooperativas escolares trata de que a realidade da escola e da comunidade foi completamente transformada a partir da implantação do programa. Antes, os jovens se dispersavam e deixavam, tanto a escola quanto o campo. Agora, as cooperativas servem como incentivo para permanecer e colaborar com a propriedade da família, já que os jovens se tornam mais criativos e participativos.
SICREDI APOSTA NUMA EDUCAÇÃO TRANSFORMADORA
No primeiro sábado de julho, dia 3, celebrou-se o Dia Internacional do Cooperativismo, também chamado de Dia C. O objetivo dessa data é divulgar o trabalho das cooperativas, destacando e fortalecendo o potencial do movimento cooperativo. O Sicredi Centro Serra, no entanto, faz isso constantemente através do programa das cooperativas escolares, que é executado juntamente com o Programa União Faz a Vida. Ao todo, são mais de mil alunos de 5º a 9º, associados em 23 cooperativas espalhadas por nove municípios da região, colocando em prática a teoria que aprendem em sala de aula.
De acordo com a assessora de desenvolvimento cooperativo e coordenadora regional do programa, Luci Fornari Abreu, o que a nova Base Nacional Curricular Comum (BNCC) coloca como desafio aos professores, as cooperativas escolares já vêm experimentando. “São espaços onde eles vivenciam a fundo o cooperativismo, o empreendedorismo. Os alunos são os protagonistas”, disse. Desde a escolha do objeto de aprendizagem, até a escolha da diretoria, os estudantes são incentivados a tomar as próprias decisões, para transformar a sua realidade.
Nas cooperativas escolares, todos são incluídos e respeitados – têm vez e voz. E, através das atividades desenvolvidas em cada uma, lhes é apresentado um caminho positivo, que os incentiva a se tornarem pessoas responsáveis. Além disso, os estudantes também se tornam capazes de descobrir as próprias potencialidades. “É porque eles experimentam não o que está posto nos livros, mas o que faz parte da realidade deles ou que pode ser incluída nela”, afirmou. Assim, os associados adquirem um conhecimento voltado para a cooperação, para a empatia, para a humanidade.
TRANSFORMAÇÃO
Gabriela Souza, de 14 anos, associada da Coopeeve, da Escola Álvaro Rodrigues Leitão, de Estrela Velha, se diverte durante as atividades na horta. “É difícil de explicar, porque tem coisas que quem não vive não vai entender. A gente realmente aprende brincando”, relatou. Ela se refere aos fóruns, dias de campo, assembleias e ao dia a dia na estufa. Segundo Gabriela, cada experiência é única e dessas vivências vai assimilando pontos essenciais para a construção da cooperativa e da sua personalidade.
Exemplo disso é a vergonha de falar em público, que foi quase totalmente deixada para trás. Outro ponto positivo destacado por ela é a possibilidade de contribuir mais com a propriedade da família, já que nas atividades da Coopeev ela aprende coisas que pode compartilhar com os pais e aplicar lá. No futuro, pretende realizar o sonho de ser agrônoma e continuar utilizando esses aprendizados.
Na Coopeev, o objeto de aprendizagem são hortaliças totalmente orgânicas cultivadas na escola e comercializadas lá também. Quando sobra, os associados levam para vender na cidade. No mês passado, em alusão ao Dia do Meio Ambiente, foi realizado o plantio de mudas de árvores frutíferas nativas, para que sirvam como uma barreira protetora para a horta.
CONHEÇA AS COOPERATIVAS ESCOLARES
- Cooper Arte & Manha | Teatro | Candelária (Cidade)
- Ceesa | Sustentabilidade e Reaproveitamento | Sobradinho (Cidade)
- Cooejoma | Marcenaria | Cerro Branco (Cidade)
- Cooepe | Artesanato de resíduos | Candelária (Interior)
- Cooesp | Trufas | Candelária (Interior)
- Coop Otaviano | Produtos de milho | Lagoão (Cidade)
- Coopeev | Cultivo de verduras e conservas | Estrela Velha (Cidade)
- Cooperarte | Sal temperado | Candelária (Interior)
- Cooper Dickel | Mudas de hortaliças e xarope caseiro | Arroio do Tigre (Interior)
- Coopersale | Bolachas e cri-cri | Candelária (Cidade)
- Cooper Tomás | Chás | Lagoão (Cidade)
- Coopervino | Amendoim, álcool gel | Arroio do Tigre (Interior)
- Coopestreck | Sabão caseiro com óleo saturado | Novo Cabrais (Cidade)
- Unirech | Flores e fuxico | Arroio do Tigre (Interior)